Leia ao som de: Menos de um segundo
“Saudade é insana, não tem planejamento, discernimento ou
auto-controle… simplesmente revira e tira tudo do lugar.”
Perdi as contas de quantas vezes comecei esse texto, não sei
começar textos e esse está sendo mais difícil.
O relógio agora está
marcando 11h48 do dia 13/03/2014, a propósito hoje é quinta-feira. Vocês sempre gostaram das quintas-feiras
porque era dia que não tinha plantão e nem aula pra dar, então quinta-feira era
oficialmente o dia que se jantava pastel, cachorro quente, pizza, lanche ou
então saíamos para algum lugar, só pra não sujar e posteriormente não precisar
limpar a cozinha. Quinta-feira era
oficialmente o dia do ‘minutinho em família’, eu adorava as quintas-férias mais do que qualquer outro dia da semana.
Hoje acordei e inconscientemente a mente voou, me teletransportei para a rede de
lembranças de alguns anos atrás, no qual eu levantaria, desceria as escadas
e encontraria vocês, com o riso fácil, olhar sereno dizendo frases do tipo “Senta ai menina e toma o café direitinho,
nunca se está atrasado demais que não dê pra tomar o café da manhã” ou “adivinha, no café da manhã de hoje temos
queijo e ai vai ser pão ou torrada?”, “vamos dançar enquanto a torradeira faz o
trabalho dela, que tal? Assim passa mais rápido”.
Quando tornei a abrir os olhos um sorriso involuntário apareceu e com ele as lágrimas, saudade quando é
demais transborda da gente. O lado ruim de me teletransportar para essa
rede de memórias e lembranças é que mesmo sendo as lembranças boas, me fazem
cair naquele buraco, que está aqui em
mim e sempre estará mesmo com a faixa amarela e preta e os cavaletes que ‘impedem’
o acesso, eu os ignoro e caio.
As gargalhadas e risadas eram rotina das quintas-feiras. E
eu sinto saudades disso, nós sentimos. Não que hoje não tenha, tem, mas não tem
as de vocês. Não tem o cheiro, o olhar, a voz, as brincadeiras, as histórias. Faltam vocês e é uma falta que sufoca.
Hoje as coisas estão diferentes por aqui, vocês iriam
gostar. A família aumentou (e aumentará mais em breve) hoje tem crianças
correndo pela casa todos os dias da semana. De final de semana isso parece um hospício,
porque são crianças correndo, brincando,
brigando, gritando, chorando, rindo, cachorros correndo atrás, pais loucos
dando bronca, outros rindo. Olha de verdade, parece um bando de loucos.
Temos histórias
novas, novos sonhos, antigas brigas não existem mais (isso com certeza é do
que vocês mais se orgulhariam), tem um riso tão maternal quanto o teu, e o
olhar ‘intimidador’ igual ao de um certo Doutor. Vocês estão tão vivos
aqui, estão em cada cantinho, no riso, no olhar, no jeito de falar, nos gestos.
O ‘minutinho em
família’ agora é na sexta-feira (pois a quinta não é mais o melhor dia da
semana), e olha sem dúvida é o dia de mais bagunça, afinal a família é grande e quando se junta vira o ‘Furacão DC’ como
apelidamos.
Mas algo continua imutável, o lugar ‘oficial’ de encontro da
família continua sendo, adivinhem a cozinha. É lá que nos juntamos para falar do dia, da vida, de tudo, de nada, é o
lugar onde as crianças (que hoje não somos nós) contam da escola, perguntam
coisas da vida e do mundo e ‘filosofam’ vê se pode, vocês iam se divertir com
elas, são umas pecinhas.
A verdade é que a
falta de vocês é sentida a cada segundo de cada dia, podemos não falar, mas
sentimos e demonstramos isso só com o olhar. Ás vezes caímos naquele
buraco, que fica naquele lugar estratégico aqui dentro e que desviamos dele
todos os dias, e ai perdemos o chão, o ar, os sentidos tudo novamente, como
aconteceu naquelas duas quintas-feiras, aquelas nas quais perdemos vocês.
Sempre achei que
teria vocês ‘para sempre’, fisicamente falando, sempre achei que teria mais um
dia, outra hora, outro momento. Mas nossos momentos aqui são contados, e a
nossa contagem foi rápida demais, foi breve.
Acho engraçado quando
me perguntam quais desejos eu faria se encontrasse uma lâmpada mágica, eu não
usaria os 3 desejos, porque só preciso
de 1, e ele seria: Ter mais 1 dia
com vocês, só isso. Um dia pra rir, pra contar as coisas da vida, para
olhar pra vocês, sentir de novo o cheiro, ouvir
de novo a voz que acalmava, o abraço que acolhia e para poder me despedir,
porque o nosso tempo juntos aqui foi tão breve, que não teve despedidas, não teve tchau, não teve beijo e abraço de
despedida, não teve frases comuns quando se despede de alguém pra sempre,
aquelas “Não fica assim, vai ficar tudo bem.”, “Se cuida aqui porque da onde
estiver cuidarei de você.”, não teve olhar, não teve um último “mãe, pai, faz a
cruzinha na testa pra eu dormir.”, não
teve o “Eu te amo, até breve.”
A saudade de vocês é tanta que nomeá-la saudades é tão pouco, que demos a ela o nome de Zathura.